sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011


VII
Saudades

Leva este ramo, Pepita,
De saudades portuguesas;
É flor nossa; e tão bonita
Não na há noutras devesas.
Seu perfume não seduz,
Não tem variado matiz,
Vive à sombra, foge à luz,
As glórias d’amor não diz;
Mas na modesta beleza
De sua melancolia
É tão suave a tristeza,
Inspira tal simpatia!...
E tem um dote esta flor
Que de outra igual se não diz:
Não perde viço ou frescor
Quando a tiram da raiz.
Antes mais e mais floresce
Com tudo o que as outras mata;
Até às vezes mais cresce
Na terra que é mais ingrata.
Só tem um cruel senão,
Que te não devo esconder:
Plantada no coração,
Toda outra flor faz morrer.
E, se o quebra e despedaça
Com as raízes mofinas,
Mais ela tem brilho e graça,
É como a flor das ruínas.
Não, Pepita, não ta dou...
Fiz mal em dar-te essa flor,
Que eu sei o que me custou
Tratá-la com tanto amor.


(Folhas Caídas)

2 comentários:

  1. Excelente escolha! Essa é uma poesia que veio bem a calhar para introduzir o blog de vcs, ela representa muito bem os sentimentos do ser humano! Parabéns!

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  2. Gostei do blog de vcs, e este poema é muito profundo e romântico,Garrett foi além das emoções.Muito pertinente esses poemas faz de fato a gente viajar em pensamentos. Muito bom!!!!!!!!!!!!!

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